A minha família não é diferente. Nela tem um louco, um bêbado, um pobre, um rico, um religioso, uma velha enjoada, uma mãezona, um obsessivo compulsivo, um contador de “causos”... Este, sempre desperta minha atenção com seus relatos. Trata-se do meu tio Elias Feitosa, um camarada dotado de grande imaginação, alto poder de retórica, muito bom humor e uma boa pitada de desatenção. Volta e meia ele aparece com uma nova. De fato, seria uma tremenda sacanagem não registrar suas peripécias. Apresento-lhes: As Aventuras e Desventuras do Tio Elias.
Por Flávio Leite
Da Xícara Quebrada
Em um preguiçoso final de semana, tio Elias saiu a passeio com sua mulher e alguns outros familiares. Em verdade, eles não sabiam para onde estavam indo. Apenas tinham em mente a vontade de passar um dia entre árvores, pássaros, mato e – quem sabe - um rio coalhado de peixes para eliminar o estresse do dia-a-dia. Após muito dormirem na beira do rio, eles decidiram comprar uma galinha, haja vista a ausência de habilidade para a pesca. Logo, encontraram uma placa com os dizeres: “vende-se galinha caipira”. Tio Elias bateu palmas e chamou:
- Ô de casa!
- Pois não moço – Disse um garoto ao abrir a janela.
- Tem galinha aí menino? – Perguntou Elias.
- Tem sim senhor. Vou chamar a minha avó.
Passado algum tempo, a velha saiu de casa para atendê-los. Cabelos brancos, pele maltratada, boca desdentada, unhas grandes e sujas, roupas velhas e rasgadas... De fato, a primeira impressão não foi das melhores. Pois que a lida no campo a impediu de conhecer qualquer tipo de vaidade, entretanto a tornou uma senhora amável e receptiva.
- Em que posso ajudar “ocês” meus amigos? – Perguntou a velha senhora.
- Queremos comprar galinhas!
- Então vamos entrando meus queridos. Estou “apreparando” uma merenda e vocês são meus convidados.
Ao adentrar a casa da velha, tio Elias enojou-se com a falta de higiene do ambiente. O local exalava um odor desagradável como cheiro de fígado bovino em decomposição. Mesmo com a perturbante insistência da senhora, eles não quiseram experimentar nada dos lanches oferecidos. Os cômodos estavam abarrotados de sujeira, as panelas abertas e cheias de moscas. Ainda assim, a receptividade da velha senhora não deixava dúvidas: ela fazia de tudo para receber bem as pessoas que se aproximavam da sua humilde chácara.
- Pelo menos um cafezin “ocês” vão tomar não é?
De rabo de olho, tio Elias olhou para sua irmã Neide e sussurrou em seu ouvido:
- Vou ter de tomar, pelo menos, um café para não fazer desfeita. Pois não podemos negar a boa vontade desta velha senhora.
A mulher passou o café e pegou uma velha xícara que tinha um pequeno buraco na borda. Apreensivo, tio Elias olhou atentamente para a xícara e pensou na melhor posição para tomar o café, de maneira a não sentir nojo depois. Em pensamento ele disse: vou tomar o café por esse buraquinho, pois acho que ninguém põe a boca nele. No momento em que tio Elias tomou o primeiro gole de café, o garotinho exclamou:
- Olha vovó, ele toma café no mesmo cantinho da xícara que a senhora gosta de tomar!
Desenho: Wesley Barbosa
Realmente, todos nos temos um pouquinho de seu Tio Elias. Passar por situações inimaginaveis, pra não dizer constrangedoras são normais , mas, ler seus textos perfeitos nos faz rir, pensar e refletir. Meus Parabéns Flávio pelo incrivel Blog e pelos seus belos textos.
ResponderExcluirabraços,
MARCELL
Marcell nosso Comentador Oficial!!! kkk
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